terça-feira, 5 de junho de 2012

Eleições 2012: O papel da Igreja em orientar seus fiéis para o voto consciente


Estamos nos aproximando do dia 07 de outubro, dia este em que mais uma vez o povo brasileiro vai às urnas, desta vez, para decidir os próximos quatro anos de sua cidade. Em 2012, as eleições baseiam-se na escolha dos prefeitos e vereadores de todos os municípios brasileiros. Para isto, a Igreja exorta aos seus fiéis na escolha correta de seus candidatos. “A Igreja pode e deve orientar os seus fiéis sobre a importância de seu voto consciente e correto”, diz dom Fernando Arêas Rifan em recente artigo. Deste modo, não é função da Igreja apontar um candidato aos seus fiéis, mas sim, orientá-los na escolha.

A relação recíproca entre Estado e Igreja
A carta encíclica Deus caritas est do Papa Bento XVI sobre o amor cristão afirma que um Estado onde não se rege a justiça, é corrupto. Santo Agostinho dizia que a distinção entre o que é de César e o que é de Deus, isto é, a diferença entre o Estado e a Igreja, pertence à composição essencial do cristianismo.
Bento XVI nos assegura que o Estado não pode estabelecer a crença. Ele deve garantir a liberdade religiosa e a paz entre as religiões. “A Igreja como expressão social da fé cristã tem a sua independência e vive, assente na fé, a sua forma comunitária, que o Estado deve respeitar”, afirma.
Para o Santo Padre a política tem sua origem e o seu objetivo na justiça. “Política e fé tocam-se”, garante Bento XVI. Segundo ele, “a fé tem a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo, entretanto, ao mesmo tempo, ela serve de força purificadora para a própria razão”. Ainda explica que a fé consente à razão, realizar de forma melhor sua missão e enxergar de forma mais clara aquilo que lhe é próprio.
Aloca-se então, a doutrina social católica. Seu objetivo não é conferir poder da Igreja sobre o Estado, mas sim, purificar a razão e contribuir com aquilo que é justo. Em sua exortação apostólica Christifideles laici sobre a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo, o Beato João Paulo II salienta a participação dos leigos na política, dizendo que eles não podem recusar sua participação na política, pois ela é destinada a promover de forma orgânica e institucional o bem comum.
“A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível” nos exorta Bento XVI. A Igreja também não pode se depositar no lugar do Estado, porém, não pode também ficar à declive no prélio pela justiça. A Igreja deve sim, inserir-se nesta luta pela argumentação, despertando em seus fiéis as forças espirituais. “A sociedade justa não pode ser obra da Igreja, mas sim, deve ser realizada pela política”, finalizou.

Um sufrágio cristão
No fim do mês de maio deste ano, os bispos do Regional Leste 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) lançaram uma cartilha de orientações aos fiéis de acordo com o voto cristão. O documento pede que se “escolha candidatos que não trocam seu voto por tijolos, bolsas de alimentos, remédios, promessas ilusórias para melhorar seu bairro”.

Em declaração à imprensa, o bispo diocesano de Nova Iguaçu, afirmou que o objetivo desta cartilha é colocar critérios, a partir dos ensinamentos evangélicos, da doutrina social da igreja e do clamor do povo, para a escolha de pessoas competentes e honestas para que sejam movidas a atingir o bem comum.
Os bispos orientam que os eleitores votem em candidatos que respeitam e valorizam a família. Em candidatos com ficha limpa. “Não queremos pessoas que pela corrupção aumentem seus bens”, afirmam. Em quem valoriza a educação das crianças, adolescentes e jovens, o ensino religioso nas escolas e o atendimento melhor à saúde. Em quem respeita a vida em todas as idades e é contra o aborto. Em quem respeita o equilíbrio da natureza, promove o saneamento básico e a construção de moradia em lugares sem risco. Em quem apresenta projetos práticos por transporte digno para a população. Em quem se compromete com uma organização eficaz para a segurança e paz da sociedade.

Viver o mandamento da caridade
Reunida em sua 50ª Assembleia Geral, a CNBB exorta aos fiéis, por meio de uma mensagem, desempenharem um de seus mais significativos deveres de cidadão, que é o voto livre e consciente. Segundo o órgão, o voto é a “expressão de participação democrática, as eleições motivam-nos a dizer uma palavra que ilumine e ajude nossas comunidades eclesiais e todos os eleitores”.
As eleições têm consequências na vida do povo. Por conseguinte, é o momento propício para que se haja investimento na construção de uma cidadania, solidificando a cultura da participação e os valores que definem o perfil ideal dos candidatos.
Os candidatos “devem ter seu histórico de coerência de vida e discurso político referendado pela honestidade, competência, transparência e vontade de servir ao bem comum. Os valores éticos devem ser o farol a orientar os eleitos, em contínuo diálogo entre o poder local e suas comunidades”, diz a mensagem.
O eleitor tem o dever de ser corresponsável na gestação de uma nova civilização, baseada na defesa incondicional da vida, desde a fecundação até a morte natural, e na promoção do desenvolvimento sustentável, possibilitando a justiça social e a preservação do planeta.
“Para o cristão, participar da vida política do município e do país é viver o mandamento da caridade como real serviço aos irmãos”, afirmam os bispos. O Papa Paulo VI, em sua carta apostólica Octogesima Adveniens, afirmou que “a política é uma maneira exigente de viver o compromisso cristão ao serviço dos outros”.
Assim como os bispos, ao encerrar a mensagem, invoquemos a proteção da padroeira deste país, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, para que abençoe o povo brasileiro e ilumine os candidatos e eleitores no exigente caminho da verdadeira política.

REPORTAGEM ESPECIAL. Da redação do Portal Ecclesia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário