Estamos
publicando a análise para nos ajudar a:
– Perceber nas entrelinhas do livro, ou em
outros que venhamos a ler, a ideologia de esvaziamento de pontos essenciais de
nossa fé católica;
– Ajudar-nos a perceber nossa atitude diante
daquilo que lemos, principalmente em obras de cunho religioso ou “autoajuda”,
que adentram na dimensão espiritual/espiritualista que interessa a nós
católicos;
– Ajudar-nos a despertar o senso critico – não
neurótico, mas atento – para filtrar à luz de nossa fé aquilo que vale a pena
ler ou não. A oferta hoje é tamanha que exige critérios para não perder tempo,
nem dinheiro, com aquilo que nada acrescenta de consistente à nossa fé ou a
nossa vida;
Impressiona a Incapacidade que muitos tem de
não perceber, dentro daquilo que estão lendo, onde tem verdade ou não. Alguns
não conseguem ver nada errado onde qualquer olhar mais atento percebe tudo!
A proposta não é analisar todo o livro mas
apenas algumas partes na esperança que possa despertar naqueles que ainda vão
ler, se tiverem “estômago”, uma nova percepção e naqueles que já leram uma
confirmação daquilo que provavelmente haviam percebido.
Desnecessário se faz dizer que a análise foi
feita a partir da fé católica, o que poderá tornar algumas colocações não muito
claras para quem não está razoavelmente por dentro da doutrina básica de nossa
fé.
Partindo dessa análise feita do livro, é
possível assistir o filme sobre uma outra perspectiva, mais critica e menos
ingênua.
Católico
pode ver o filme? claro que sim. O que não pode é ser Teologicamente ingênuo.
” A cabana”- análise do livro sob ótica
católica.
- O livro é muito bem
escrito e atraente no seu enredo simples, no assunto e no estilo. A
linguagem, porém, com algumas citações bíblicas feitas de formas
indiretas, traz uma profusão de sofismas capaz de iludir o leitor menos
atento. (lembro que a “metodologia” do sofisma, muito utilizado na
filosofia grega antiga, consiste em tomar uma verdade ou duas verdades e
combiná-la com uma ou mais inverdade de formas que tudo pareça verdadeiro
ou que tudo pareça falso, de acordo com o objetivo de quem sofisma). O
livro traz em seu próprio enredo incoerências entre a trama e o que é dito
pelas “pessoas” da “trindade”.
- a editora do mesmo (e isso
é muito importante ao comprar ou ler um livro dedica-se a livros de
auto-ajuda ou assuntos não comprovados nem pelo próprio livro nem pela
ciência, teologia e, por vezes, o bom-senso). É bastante ler a lista dos
seus “clássicos”, na ultima página do livro. A exceção é O Monge e o
Executivo.
O livro conta a história de um
homem que, em um acampamento nas montanhas com os filhos tem sua caçula
seqüestrada e morta enquanto está sob a água, tentando salvar um outro filho,
que se afogava sob um bote. Após quatro anos de tristeza e desilusão, recebe
uma carta de Deus, que se apresenta como Papai convidando-o a voltar à cabana
onde o crime contra sua filha havia sido cometido. Relutante, aceitou.
Até aqui, nada anormal. A
ficção, afinal, dá direito a todo tipo de imaginação. O inadequado começa quando
este homem, Mack, encontra a “trindade” na cabana. Naturalmente, como autor,
Young goza o direito de utilizar sua imaginação, sua bela linguagem, suas
descrições do Pai como uma senhora negra que cozinha, o Filho como um judeu
cujo nariz enorme o deixa feio e o Espírito como uma moça asiática feita de luz.
Ele tem o direito, sim, de
imaginar a trindade como um autor leigo ignorante da boa teologia e
eclesiologia e influenciado pela Nova Era, pelo Espiritismo e pelo Relativismo. Nós é que temos o
dever de distinguir o que é bom do que não é. A narrativa é tão envolvente, que os
deslizes de Young quanto à fé, a eclesiologia e a moral podem passar
desapercebidos para a pessoa mais bem formada.
I. O PAI
- O Papai é apresentado como uma mulher (Young parece decidido a quebrar todos os paradigmas) e chamado de papai durante todo o livro, tanto pelo Filho e pelo Espírito, quanto por Mack. Sabemos que João Paulo II afirma que Deus é Pai e Mãe quanto ao cuidado, ao coração misericordioso, as entranhas de misericórdia, tão típicas de uma mãe. Entretanto, o Deus que Jesus nos veio revelar é o Deus que é Pai, ainda que afirme em Mt 5 que Ele tem entranhas de mãe. A justificativa do “pai” para apresentar-se como mulher é o fato de Mack ter rejeição ao seu pai biológico (p. 83). Esta mulher, entretanto, não é mãe, mas pai. Seus afazeres são, segundo ela mesma, de cozinheira e governanta. Este pai mulher traz as cicatrizes de Jesus, como se o Pai não fosse puro espírito, mas tivesse um corpo de homem, isso é, de mulher.
- Em um esforço de fazer
“deus mais perto de nós”, o autor acaba por esbarrar no grotesco. Além da
descrição do Pai como uma enorme negra que se auto-intitula
governanta-cozinheira e traz cicatrizes no corpo (???), destacam-se
algumas situações especiais. Perguntado por Mack sobre que música estava
ouvindo, respondeu:
” Um barato da Costa Oeste. É um disco que ainda nem foi lançado,
chamado Viagens do
Coração, tocado por uma banda chamada Diatribe . Na verdade – ela
piscou para Mack – esses garotos ainda nem nasceram.
– É mesmo, reagiu Mack bastante
incrédulo. – Um barato da Costa Oeste, hein? Não parece muito religioso.
– Ah, acredite: não é. É mais
tipo funk e blues eurasiano com uma mensagem fantástica. – Ela veio bamboleando
na direção de Mack, como se estivesse dançando, e bateu palmas. Mack recuou.
(!!!)
– Então Deus ouve funk?
– Ora, veja bem, Mackenzie.
Você não precisa ficar me rotulando. Eu ouço tudo e não somente a musica
propriamente dita, mas os corações que estão por trás delas.”(p. 81) ( os rótulos são
especialmente detestados na nova era e no relativismo)
- O “pai” dá uma explicação
completamente esdrúxula para ter-se revelado como pai e não como mãe:
“…assim que a Criação se
degradou, nós soubemos que a verdadeira paternidade faria muito mais falta do
que a maternidade. Não me entenda mal, as duas coisas são necessárias, mas é
essencial uma ênfase na paternidade por causa da enormidade das conseqüências
da função paterna”(p. 84). Creio
que tal absurdo dispensa comentários. O autor não leva em conta o que a Bíblia
e a Igreja dizem da missão do homem, do pai, da mulher e do homem na criação,
na família, na sociedade. Aliás, esta é uma das características do livro. Não
lhe importa o que diz a Palavra ou a Igreja e esta, como todas as instituições,
são desprezíveis aos olhos da “trindade”, que orienta Mack a desprezá-las.
- Ao definir o que Ele é,
desautoriza o que os homens pensam e definem dele (embora não cite
diretamente a Igreja e os teólogos, fica implícito pelas palavras que
usa). No final, felizmente diz que é “acima e além de tudo o que você
possa perguntar ou pensar.”(p. 88)
- Na página 89, o pai faz
uma afirmação capaz de fazer tremer os céus: “Quando nós três penetramos
na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos
tornamos totalmente humanos. Também optamos por abraçar
todas as limitações que isso implicava. Mesmo que tenhamos estado sempre
presentes nesse universo criado, então nos tornamos carne e sangue. Seria
como se este pássaro, cuja natureza é voar, optasse somente por andar e
permanecer no chão. Ele não deixa de ser pássaro, mas isso altera
significativamente sua experiência de vida.” E continua a confusão
teológica sobre 3 Pessoas em um só Deus dizendo: “Ainda que por natureza
Jesus seja totalmente Deus, ele é totalmente humano e vive como
tal (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
Ainda que jamais tenha perdido sua capacidade inata de voar, ele opta,
momento a momento, por ficar no chão. Por isso (!!!!!!) seu nome é
Emanuel, Deus conosco, ou Deus com vocês, para ser mais exata.” De uma tacada
só, além de destruir o dogma da Santíssima Trindade, (somente o Filho se
faz homem e, embora as outras duas pessoas estejam com ele e nele, não se
pode dizer que os três se fizeram homem) atinge a união hipostática e a
profecia de Isaías. A impressão que dá é que o autor “ouviu o galo cantar,
mas não sabe onde”. Por mais que se queira justificar tais afirmações com
o fato da intenção do autor não ser teológica, ele insiste, como outros
autores de livros metade cristãos-metade autoajuda, em colocar o
Evangelho, a Palavra e a Igreja a serviço de sua idéia e objetivo e não o
contrário.
- Depois, infelizmente, vem
algo ainda pior, que fazemos questão de transcrever:
“- Mas, e todos os milagres? As
curas? Ressuscitar os mortos? Isso não prova que Jesus era Deus… você sabe,
mais que humano?
– Não, isso prova que Jesus é
realmente humano.
– O que?
– Mackenzie, eu posso voar, mas os humanos, não. Jesus
é totalmente humano. Apesar de ele ser também totalmente Deus, nunca aproveitou sua natureza divina
para fazer nada. Apenas viver seu relacionamento comigo do modo como eu desejo
que cada ser humano viva. Ele foi simplesmente o primeiro a levar isso até as
últimas instâncias: o primeiro a colocar minha vida dentro dele (??) o
primeiro a acreditar (??)
no meu amor e na minha bondade, sem considerar aparências nem conseqüências. (Tal comentário,
além de dizer que Jesus precisava da virtude TEOLOGAL da fé, deixa de fora
todos os profetas, todos os patriarcas, João Batista, José e Maria.
Desclassifica tudo o que Jesus fez, não somente os milagres, mas o milagre
maior do amor de total entrega na Cruz e na Eucaristia).
– E quando curava os cegos?
– Fez isso como um ser humano
dependente e limitado que confia na minha vida e no meu poder de trabalhar com
ele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar
ninguém.” (p. 90). Este
é mais um golpe inacreditável na união hipostática, mas consegue piorar no
parágrafo seguinte:
“- Só quando ele repousava em
seu relacionamento comigo e em nossa comunhão, nossa comum-união, ele se
tornava capaz de expressar meu coração e minha vontade em qualquer
circunstância determinada. Assim, quando você olha para Jesus e parece que ele
está voando, na verdade ele está… voando. Mas o que você realmente esta vendo
sou eu, minha vida nele. É
assim que ele vive e age como um verdadeiro ser humano, como cada humano está
destinado a viver: a partir de minha vida“(p. 90).
Este é um dos sofismas mais disfarçados e sutis do livro, o que torna a
afirmação aparentemente verdadeira para os mais distraídos, mas totalmente
absurda para alguém mais atento: uma verdade – cada ser humano é chamado (não
destinado!) e várias inverdades, a partir da primeira linha (então quer dizer
que Jesus ora “repousava em seu relacionamento com Deus e Sua vontade, ora
não??? Este raciocínio mentiroso é coroado com uma ultima inverdade: Jesus vive
e age como verdadeiro ser humano. NÃO É ISSO o que Jesus quis dizer quando
afirma que faz o que vê o Pai fazer, que aprendeu tudo do Pai, que Ele e o Pai
são um! Jesus É totalmente homem e totalmente Deus e é um com o Pai, gerado,
não criado, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus Verdadeiro.
Em um dado momento, o mesmo
Pai, que nos pede para não chamar o irmão de “Racca”, sob pena do fogo do
inferno (Mt 5), diz:
“- Homens! algumas vezes são
tão idiotas!”
Ele não podia acreditar.
_ Ouvi Deus me chamar de
idiota? – gritou pela porta de tela.
Viu-a (“ela” é Deus) dar de
ombros antes de desaparecer na virada do corredor. Depois ela (o “pai”) gritou
em sua direção:
– Se a carapuça serve, querido.
Sim, senhor, se a carapuça serve…”
II. O FILHO
- O Filho se apresenta como
um judeu envolvido em sua carpintaria e com Mack e ri quando este diz que
ele é feio, afirmando que, realmente, é feio e tem o nariz grande como os
ancestrais masculinos de sua mãe. (p. 102) Sabemos que
em Deus não há nada que não seja beleza, verdade, luz, vida e ainda que
todos os ancestrais de Nossa Senhora fossem feios e narigudos, isso não
seria característica do Filho.
- Acerca da inabitação, diz
o livro:
“- Meu propósito, desde o
início, era viver em você e você viver em mim.
– Espere, espere. Espere um
minuto. Como isso pode acontecer? Se você ainda (???) é totalmente humano, como pode
estar dentro de mim?
– Espantoso, não é? É o milagre
de Papai. É o poder de Sarayu (Esp. Sto), meu Espírito, o Espírito de Deus que
restaura a união que foi perdida há tanto tempo. Eu? A cada momento eu
escolho viver totalmente humano (????) Sou totalmente Deus, mas sou
humano até o âmago. Como disse, é o milagre do Papai. (p. 103)
3. Milagre ou diversão?
Embora seja um deslize pequeno,
quase uma utilização literária de uma passagem das Escrituras, o evento de
Jesus e Mack caminharem sobre as águas contradiz o Evangelho. Sabemos o quando
Jesus se aborrecia quando as pessoas pediam sinais e o quanto a Igreja insiste
em dizer que Jesus sempre tinha um objetivo claro em seus milagres. Este de
caminhar sobre as águas foi crucial para Pedro e para o entendimento da Igreja
como uma barca. Como disse, entretanto, é um deslize pequeno diante dos outros.
III. O ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é uma moça
asiática etérea, irrequieta e colorida, que leva as pessoas a se sentirem bem,
em paz, aliviadas, mais que amarem a Deus e aos irmãos. Não tem
nenhuma relação com a Igreja, assim como o Pai. Nega que a Bíblia traga regras,
mandamentos ou conselhos, como veremos abaixo. Ele é como que o “responsável”
por fazer o homem livre de toda regra, obediência ou mandamento bíblico ou da
Igreja. Ou seja,
tem papel exatamente contrário ao do verdadeiro Espírito Santo!
IV. UM DEUS ANARQUISTA?
Oposição entre amor,
relacionamento e poder, hierarquia e autoridade: um Deus anarquista?
Este tema desenvolve-se sutil e
lentamente ao longo do livro e acabará por opor toda instituição ao amor e
relacionamento, o que se tornará crítica explícita à Igreja e à religião. O
tema já aparece antes da página 97, mas retorna aqui:
“Os relacionamentos não têm
nada a ver com poder. Nunca! E um modo de evitar a vontade de exercer poder é
escolher se limitar e servir. Os humanos costumam fazer isso quando cuidam dos
enfermos, quando servem os idosos, quando se relacionam com os pobres, quando
amam os muito velhos e os muito novos, ou até mesmo quando se importam com
aqueles que assumiram uma posição de poder sobre eles.” (97) Depois da primeira
frase, todas as frases são corretas, o que parece dar legitimidade à primeira,
mas é um paradoxo com a ultima.
Outro texto sobre o mesmo tema:
“- os humanos estão tão
perdidos e estragados que para vocês é quase incompreensível que as pessoas
possam trabalhar ou viver juntas sem que alguém esteja no comando.
– Mas qualquer instituição
humana, desde as políticas até as empresariais, até mesmo o casamento, é
governada por esse tipo de pensamento. É a trama do nosso tecido social –
declarou Mack.
– Que desperdício! Disse Papai,
pegando o prato vazio e indo para a cozinha.
– Esse é um dos motivos pelos
quais é tão difícil para vocês experimentar o verdadeiro relacionamento –
acrescentou Jesus. – Assim que montam uma hierarquia, vocês precisam de regras
para protegê-la e criando algum tipo de cadeia de comando que destrói o
relacionamento ao invés de promovê-lo. Raramente vocês vivem o relacionamento
fora do poder. A hierarquia impõe leis e regras e vocês acabam perdendo a
maravilha do relacionamento que nós pretendemos para vocês. (Em Gn 1, Deus já
estabelece uma hierarquia entre o homem e o criado, o que define inclusive o
tipo de relacionamento entre eles e o tipo de responsabilidade do homem quanto
à criação – mais tarde, no livro, a responsabilidade também será questionada)
– … Então nós fomos seduzidos
por essa preocupação com a autoridade?
– De certo modo, sim –
respondeu Papai, passando o prato de verduras para Mack… –
Sarayu continuou:
– Quando vocês escolhem a
independência nos relacionamentos tornam-se perigosos uns para os outros. As
pessoas se tornam objetos a serem manipulados ou administrados para a
felicidade de alguém. A autoridade, como vocês pensam nela, é meramente a
desculpa que o forte usa para fazer com que os outros se sujeitem ao que ele
quer.” (puro
relativismo e nova era, a ser engolido por milhões de pessoas no mundo inteiro
sob a autoridade do nome de Deus!)
Mais tarde, na pág 122, Sarayu
diz que essa conversa relacionava-se com a árvore da vida!!!
Desta forma, critica o próprio Deus que,
segundo o então Cardeal Ratzinger, proíbe o homem de tocar na árvore do bem e
do mal e na árvore da vida exatamente para definir a relação de autoridade e
obediência e impor ao homem limites que, obedecidos, o teriam salvaguardado do
pecado. Lendo Gen 1, 2 e 3, onde se estabelecem as primeiras regras, hierarquia
e instituições, pode-se dizer tudo, EXCETO que Deus não se relacionava com o
homem!!!
Na página 135, há uma afirmação
sobre as mulheres e o poder, o que poderia parecer ser simplesmente uma
tentativa de quebrar paradigmas, já que não se repete depois. É Jesus quem fala:
“- O mundo, em vários sentidos,
seria um lugar muito mais tranqüilo e gentil se as mulheres governassem.
Haveria muito menos crianças sacrificadas aos deuses da cobiça e do poder. (esta é uma idéia
feminista das mais radicais. Segundo ela, a mulher é superior ao homem em
vários campos e têm uma percepção do universo mais espiritual. Tal idéia é um
primeiro passo para a defesa do aborto e a retirada do sentimento de culpa das
mulheres com relação a ele. Por isso, muitos governos colocam mulheres à frente
de processos de legalização do aborto).
Mack continua:
– Então elas teriam realizado
melhor esse papel.
– Melhor, talvez, mas ainda
assim não seria suficiente. O poder nas mãos dos seres humanos independentes,
sejam homens ou mulheres, corrompe. Mack, você não vê que representar papéis é
o contrário do relacionamento?” (mais
uma vez, duas idéias não verdadeiras (mulheres no governo fariam um mundo
melhor e representar papéis é o contrário do relacionamento) se apóia em uma
verdadeira ( o poder nas mãos dos seres humanos independentes, sejam homens ou
mulheres, corrompe).
A pouca relevância do parágrafo
acima no contexto do livro, torna-se aberrante na passagem abaixo, quando Mack
diz:
“- Mas você veio na forma de
homem. Isso não significa alguma coisa?
– Sim, mas não o que muitos
imaginam (??? Indireta aos teólogos, aos estudiosos da Palavra?). Vim como homem
para completar a imagem maravilhosa de como fizemos vocês. Desde o primeiro dia
escondemos a mulher no homem, de modo que na hora certa pudéssemos retirá-la de
dentro dele. Não criamos o homem para viver sozinho. A mulher foi projetada
desde o início. Ao tirá-la de dentro dele, de certa forma ele a deu à luz.
Criamos um círculo de relacionamento como o nosso, mas para os humanos. Ela saindo dele e agora todos os homens, inclusive eu, nascidos
dele, e tudo se originando ou nascendo de Deus.“(P. 135) O Magistério de
João Paulo II e Bento XVI, nos tem dado fundamentação de sobra para vermos que
a proposta do livro é absurda. Primeiro, a Palavra diz que Deus criou a mulher
a partir do homem adormecido. Segundo, o fato de o homem “dar à luz” não o faz
semelhante à mulher e muito menos a Deus. Terceiro, essa narrativa esdrúxula
jamais remeteria ao homem e à criação nascendo de Deus, que criou tudo do
nada!!!!!!!
Infelizmente, a má
interpretação continua nos parágrafos seguintes, p. 136:
“- Ah, entendi – exclamou Mack,
interrompendo…- se a mulher fosse criada primeiro não haveria um círculo de
relacionamento e não se tornaria possível um relacionamento totalmente igual,
cara a cara, entre o homem e a mulher. Certo? (Sabemos bem o que diz o
Magistério sobre o homem e a mulher face a face na interpretação de Gn 2). Note-se que a
afirmação de Mack é totalmente sem lógica. Então o homem precisava “parir” a
mulher para que ambos fossem iguais?? Espantoso, além de inspirado em
mitologias pagãs.
– Certíssimo Mack. (…) Mas sua
independência, com busca de poder e de realização, na verdade destrói o
relacionamento que seu coração deseja.
– Aí está de novo (…) a questão
sempre volta ao poder e a como ele é oposto ao relacionamento que vocês tem
entre si. “(136). Novamente,
temos aqui o pecado original, o fruto da árvore do bem e do mal como busca de
independência e poder (um pecado relacional!) e não como o pecado pessoal da
rebeldia contra Deus, do orgulho e egoísmo (pecado que tira Deus do centro e
diz respeito ao interior de cada um, embora se expresse nas relações). O pecado
original, aqui, não é visto como uma queda do homem ou uma rebeldia contra
Deus, mas uma concupiscência (que, como sabemos, é resultado do pecado
original, e não O pecado original).
IV – RELATIVISMO
O relativismo aparece por todo
lado no livro. Seria necessário transcrevê-lo quase todo. Aparece na falta de
necessidade de obedecer, no fazer o que quiser ao invés de obedecer, no
ridículo que é ter responsabilidade. Segundo “Jesus”, no livro, submissão não
tem nada a ver com autoridade e obediência, que são conceitos inventados por
nós, assim como a responsabilidade e a expectativa (p. 133). O relativismo está
presente no “anarquismo” comportamental pregado especialmente no final do
encontro de Mack com a “trindade”. Na verdade, poderia resumir a mentalidade do
livro, juntamente com “anarquismo”, “individualismo”, utilização irresponsável
de sofismas e utilização indevida da Palavra em interpretação pessoal e muito
fantasiosa.
“- Vc não deve fazer nada. Está livre para o que
quiser. (…) não se sinta obrigado. Vá se for isso o que você quer fazer.”, diz Jesus (p. 80)
Como as idéias da moral
relativista se espalham por todo o livro, preferimos colocá-las à medida que
aparecem de forma mais forte, nos comentários abaixo:
V. DOUTRINA SOBRE O CÉU E
INFERNO
- A ênfase sobre uma
“trindade” que
não exige, que não julga, que não espera nada de nenhum homem, que não
nutre expectativas nem lhes impõe responsabilidades nem os purifica
(apenas os cura) elimina inteiramente a idéia da purificação do purgatório
para ver a Deus (como o livro é escrito por protestante, não se pode esperar
isso mesmo), mas também a idéia
do inferno. Deus
é perfeitamente bom, tolerante e vê o bem do homem como um relacionamento
com ele, sem esforço pela santidade, sem purificação para a santidade.
Jesus já venceu tudo isso na morte e ressurreição (no
livro não se fala de pecado). A única coisa que o homem
deve fazer, mas só se quiser, é relacionar-se com a “trindade”, mas sem
compromisso de amor, Igreja, sem qualquer instituição, sem
responsabilidade, sem expectativas e sem regras, leis ou rituais.
Um exemplo é quando Jesus diz a
Mack:
“- Só quero que confie em mim o
pouco que puder e que cresça no amor pelas pessoas ao seu redor com o mesmo
amor que compartilho com você. Não cabe a você mudá-las nem convencê-las,
Você está livre para amar sem qualquer obrigação.”
Na pág 168 se lê:
“Mack, eu as amo (as pessoas
que inventaram os sistemas de poder). E você comete um erro julgando-as.
Devemos encontrar modos de amar e servir os que estão dentro do sistema, não
acha? Lembre-se,
as pessoas que me conhecem são aquelas que estão livres para viver e amar sem
qualquer compromisso. (!!!!!!!!!!)
(Como amar de acordo com o Evangelho sem compromisso ou responsabilidade? Como
seguir Jesus até a cruz, como ser seu discípulo sem compromisso ou
responsabilidade? De qual amor o livro fala? Talvez do da Nova Era, do da Era
de Aquarius, jamais do amor cristão! Jamais do verdadeiro amor humano!)
– É isso o que significa ser
cristão? – Achou meio idiota ao dizer isso, mas era como se estivesse tentando
resumir tudo na cabeça.
– Quem disse alguma
coisa sobre ser cristão? Eu não sou cristão. (na verdade, Jesus
era judeu, mas fundou o cristianismo, segundo foram chamados seus seguidores
POR CAUSA DELE, o Cristo. Este tipo de afirmação clichê (como muitas outras
presentes no livro) engana o leitor incauto e o leva a pensar que ser ou não
ser cristão não faz diferença, pois nem Jesus era cristão!)
A idéia pareceu estranha e
inesperada para Mack e ele não pode evitar uma risada.
– Não, acho que não é.
Chegaram à porta da
carpintaria. De novo Jesus parou:
– Os que me amam estão em todos
os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou mulçumanos,
democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer
instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram
hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e
palestinos. (conforme já comentamos, a idéia de pecado não existe no livro.
Jesus já os pagou todos e todos já desapareceram). Não tenho desejo
de torná-los cristãos, mas quero me
juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do
Papai, em irmãos e irmãs, meus amados. ( se não importa a Jesus que os homens
sejam ou não cristãos, porque Ele teria mandado os discípulos até os confins da
terra BATIZANDO OS QUE CRESSEM EM NOME DO PAI, DO FILHO, DO ESPÍRITO SANTO,
isto é, fazendo-os cristãos? )
A seguir, vem a afirmação bela
e verdadeira que, aparentemente, “sanciona” todo erro exposto:
– Isso significa que toda
estrada leva a você?
– De jeito nenhum (…) A maioria
das estradas não leva a lugar nenhum. O que isso significa é que eu viajarei
por qualquer estrada para encontrar vocês.” Pronto. Esta afirmação verdadeira
vem fazer com que pareçam verdades as inverdades ditas acima. Mais um sofisma
bem elaborado).
- Neste contexto se dá o
encontro com Missy, a filha morta, que o “abraça” e “vê” e é vista e
“abraçada” por ele por trás da cachoeira Tal encontro é recheado de
elementos do folclore panteísta indígena e nova era como a cachoeira, o
jardim colorido, a rocha escura. Os filhos vivos de Mack também estão
presente na cena “em sonho”.
Este episódio pontilhado de
clichês provavelmente utilizados nas pregações que o autor escutou ou revistas
que leu, traz, como clichê central, a historinha do julgamento no qual a pessoa
é colocada no lugar de juiz entre dois de seus filhos ou entes queridos. Embora
seja clichê entre os protestantes e, dessa forma, empobreça a linguagem do
livro, é muito útil para que se entenda a necessidade da misericórdia e perdão,
que só Deus tem como exercer sem erro e plenamente. No episódio faltam alguns
elementos como Jesus Cristo como fonte de misericórdia, mas isso não parece
proposital. É apenas mais uma das muitas contradições do livro, que condena os
rituais, mas os promove, que fala no perdão do Pai, mas não inclui o filho, etc.
- É, aliás, em um ritual que
Mack se encontra com o pai biológico, em meio a milhares de espíritos de
luz, mas distinto dos outros por estar-se “debatendo em seus sentimentos”
e “resistindo” a eles com relação a Mack. A questão dos
espíritos de luz evoca o espiritismo, a nova era, a concepção oriental de
céu, o que vem combinar com a idéia de que o Céu como um lugar de
purificação da natureza, igualmente espiritualista. Quanto ao “debater-se
em sentimentos” o pai de Mack, ou é simplesmente uma figura literária, ou
uma clara ignorância do que diz a doutrina cristã sobre o estado das almas
no céu.
- Neste episódio, há um dado
interessante: Mack está vendo o céu com os olhos com que Deus o vê e chega
à conclusão de que no céu as pessoas não somente são espíritos de luz
sendo purificados (já que o céu é uma purificação da criação), mas que se
comunicam através de cores e brilhos. Dado o contexto de tantas afirmações
contrárias à fé, fico sem saber se isso é meramente interpretação livre do
autor, ou se há algo em alguma doutrina que faça alusão a este tipo de
“linguagem”, exceto nas alucinações causadas por LSD, que não creio ser o
caso aqui.
- VI. IGREJA E “MÁQUINA
RELIGIOSA” – PURIFICAÇÃO DA CRIAÇÃO – AFIRMAÇÕES TÍPICAS DA MENTALIDADE
ANARQUISTA DA NOVA ERA MISTURADAS COM VERDADES DE FÉAs afirmações das
passagens a seguir são tão absurdas que dispensariam comentários.
Entretanto, como é possível que alguém tenha lido e não tenha reparado,
vamos colocá-las em negrito.Jesus diz a Mack:
“- Bom, Mack, nosso destino
final não é a imagem do Céu que você tem na cabeça. Você sabe, a imagem de
portões adornados e ruas de ouro. O
céu é uma nova purificação do universo, de modo que vai se
parecer bastante com isso aqui. (Esta
afirmação é de cunho espírita e totalmente contrária à fé cristã católica e à
Palavra)
– Então que história é essa de portões
adornados e ruas de ouro? (veja que ele fala da Palavra não como
a verdade, mas como algo que pode ou não pode ser verdadeiro).
– Esta, irmão – começou Jesus, deitando-se no
cais e fechando os olhos por causa do calor e da claridade do dia -, é uma
imagem de mim e da mulher por quem sou apaixonado. (…) É uma imagem da minha
noiva, a Igreja: indivíduos que juntos formam uma cidade espiritual com um rio
vivo fluindo no meio e nas duas margens árvores crescendo com frutos que curam
as feridas e os sofrimentos das nações. Essa cidade está sempre aberta e cada
portão que dá acesso a ela é feito de uma única pérola (…) Isso sou eu! (…)
Pérolas, Mack. A única pedra preciosa feita de dor, sofrimento e, finalmente,
morte. (alguém
precisa informar ao autor que a pérola não é uma pedra preciosa. Entretanto,
pode ter sido erro de tradução do “gem” em inglês. Em todo caso, aqui temos
outro clichê tipicamente evangélico e por vezes útil para o primeiro anúncio).
– Entendi. Você é a entrada, mas… Você está
falando da Igreja como essa mulher por quem está apaixonado. Tenho quase
certeza de que não conheço essa Igreja (…) Não é certamente o lugar aonde eu
vou aos domingos. (…)
-Mack, isso é porque você só está vendo
a instituição que é um sistema feito pelo ser humano. (Jesus
fundou, sim, a Igreja como instituição e também como hierarquia ao nomear Pedro
chefe da Igreja em Mt 16) Não foi isso que eu vim construir. O
que vejo são as pessoas e suas vidas, uma comunidade que vive e respira, feita
de todos que me amam e não de prédios, regras e programas. (não
parece uma alusão clara ao Vaticano, às paróquias e aos programas pastorais das
Igrejas Evangélicas?)
“Mack
ficou meio abalado ouvindo Jesus falar de ‘igreja” desse modo, mas isso não
chegou a surpreendê-lo. De fato, foi um alívio.
– Então como posso fazer parte dessa Igreja?
Dessa mulher pela qual você parece estar tão apaixonado?
– É simples, Mack. Tudo só tem a ver com os relacionamentos e com
o fato de compartilhar a vida. (…) Minha Igreja tem a ver com as pessoas e a
vida tem a ver com os relacionamentos. Você pode construí-laÉ meu trabalho e, na verdade, sou bastante bom nisso
– disse Jesus com um risinho. (Em outras palavras, o “Imagine”
relativista de John Lennon. Novamente, verdade e inverdade se misturam e
enganam os menos atentos)
Para Mack essas
palavras foram como um sopro de ar puro! Simples. Não um monte de rituais
exaustivos e uma longa lista de exigências, nada de reuniões intermináveis com
pessoas desconhecidas. Simplesmente compartilhar a vida. (todo amor à Igreja,
toda doação de vida, todo sacrifício, ficam, assim, destruídos)
(…) Quer
dizer, acho que o modo como vocês (a “trindade”) são é muito diferente de todo
o negócio religioso em que fui criado e com o qual me acostumei. ( o “negócio
religioso”chamado Igreja é arcaico a ponto de toda a
sociedade “se acostumar”com ela. É isso o que ele insinua? Pois o “negócio”
religioso (provavelmente foi utilizada a palavra “stuff”, que quer dizer
“falação sem conteúdo”, mas não tenho o original inglês) , vai agora virar uma
“máquina”, veja abaixo)
– Por mais bem-intencionada que seja, você
sabe que a
máquina religiosa é capaz de engolir as pessoas! – disse Jesus, num tom meio
cortante. – Uma quantidade enorme das coisas que são feitas em
meu nome não têm nada a ver comigo. E frequentemente são muito contrárias aos
meus propósitos. (A
Igreja é uma dessas coisas? É isso o que parece insinuar)
– Você não gosta muito de religião e de
instituições? – perguntou Mack sem saber se estava fazendo uma pergunta ou uma
afirmação.
– Eu
não crio instituições. Nunca criei, nunca criarei (!!!!)
– E a instituição do casamento? (Mack tem razão de
perguntar, pois no ritual do casamento é dito explicitamente que ele é a única
instituição criada por Deus antes do pecado original e que sobreviveu a ele!
Como resposta, “Jesus” vai mais uma vez contrapor instituição a relacionamento,
em uma afirmação muito típica do caos pregado pela Nova Era).
– O casamento não é uma instituição. É
um relacionamento (…) Como eu disse, não crio instituições. Essa é uma ocupação
dos que querem brincar de Deus. Portanto, não, não
gosto muito de religiões e também não gosto de política nem de economia. (Impressionante a
capacidade do autor de não aprofundar nenhum assunto mas, pelo contrário, criar
sofismas que, unidos a verdades bíblicas, confundem as pessoas, como neste
caso, a partir do qual se pode afirmar: acabou-se o relacionamento, acabou-se o
casamento, o Papa, os bispos e padres estão criando instituições e brincando de
Deus. Não falam em nome Dele e tudo o que fazem faz parte da “máquina
religiosa”, inclusive a liturgia, os sacramentos, a pregação.)
A expressão de Jesus ficou notavelmente
sombria.
– E por que deveria gostar?
É a trindade de terrores criada pelo ser humano que assola a Terra e engana
aqueles de quem eu gosto. Quantos tormentos e ansiedades relacionados a cada
uma dessas três coisas as pessoas enfrentam? ( “Jesus” coloca no mesmo plano,
em um plano trinitário, isto é onde os 3 são iguais mas diferentes, a economia,
a política e a religião !!!!! e as chama de “trindade de terrores” que trazem
tormentos e ansiedades às pessoas!!!!!! A Igreja não é mais instrumento de
salvação, a política e economia não são mais maneiras de implantar a justiça e
amor divinos!!! É a anarquia geral da geração de 68 atacando de Nova Era, de
relativismo, de hedonismo, é o caos!)
(…)
– Falando de modo simples, religião, política
e economia são ferramentas terríveis que muitos usam para sustentar suas
ilusões de segurança e controle. As pessoas têm medo da incerteza, do
futuro. Essas
instituições, essas estruturas e ideologias são um esforço inútil de criar
algum sentimento de certeza e segurança onde nada disso existe. É tudo falso! Os sistemas não
podem oferecer segurança, só eu posso. (novamente, uma verdade – “só eu posso”-
misturada a um monte de inverdades contrárias ao Evangelho, à história da
Igreja, à noção de santidade e ao papel transformador do cristão no mundo.
Além, claro, da falsa idéia de liberdade que perpassa o livro inteiro e que
chega ao seu cume na conversa com Sofia, onde se misturam idéias muito boas
sobre julgamento e perdão com idéias absurdas sobre liberdade, reforçando a
idéia de liberdade que o Pai coloca no início do livro).
A liturgia não fica fora das críticas de
“deus”:
“- Nada é um ritual, Mack.”(p. 194)
“- Nada é um ritual, Mackeinze.” (p. 204),
além de várias outras afirmativas que criticam o rito e o ritual e a oração que
os segue. Infelizmente, não os anotei todos.
VII.
A INEXISTENCIA DE REGRAS E A NECESSIDADE DE ENTENDER PARA ACREDITAR (ANARQUISMO
– NOVA ERA + ILUMINISMO – ESPIRITISMO) – ECO DO “IMAGINE’ DE JOHN LENNON?”
O horror a instituições e sistemas, da
autoridade e obediência, leva também à afirmação de que regras são
desnecessárias, ainda que estejam na Bíblia!
Em companhia do Espírito Santo (Sarayu), Mack
ouve dele as seguintes palavras:
“- Mackenzie! Seu tom era de censura, as
palavras voando com afeto – a Bíclia não lhe diz para seguir regras.(Qual
é mesmo a Bíblia dela???) Ela
é uma imagem de
Jesus (?? – é isso o que diz a Dei Verbum, o último Sínodo da Palavra, o
Catecismo? A Palavra não é imagem de Jesus. Ela É Jesus. Acontece, como veremos
depois, que o livro trará todo um discurso de meta-linguística onde toda a
“trindade” se autodenomina verbo!!!!!! São João Evangelista nos acuda!)
(…)
– É verdade que os relacionamentos são muito
mais complicados do que as regras, mas as regras nunca vão lhe dar as respostas
para as questões profundas do coração. E nunca irão amar você.
( Eis uma pérola de anarquismo, de egoísmo, de centralização em si, de
anti-Evangelho)
(Na
seqüência da conversa, “a” Espírito Santo nos presenteia com mais uma pérola da
arte de sofismar)
– Mackenzie, a religião tem a ver com respostas certas e algumas dessas
respostas são de fato certas. Mas eu tenho a ver com o processo que leva você à resposta viva e só ele é capaz de mudá-lo por
dentro. Há muitas pessoas inteligentes que dizem um monte de coisas certas a
partir do cérebro porque aprenderam com alguém quais são as respostas certas. Mas essas pessoas
não me conhecem. Assim, na verdade, como as respostas delas podem ser certas,
mesmo que estejam certas? –
Ela sorriu.- Ficou confuso? Mas pode ter certeza: mesmo que possam estar
certas, elas estão erradas. (Vê-se
aqui, a total separação entre o poder do Espírito Santo e a Igreja. Ele não é a
alma da Igreja, cujos “chefes” e “teólogos” dão respostas certas sem conhecer o
Espírito Santo, o que torna todas as suas respostas erradas! Que sofisma
admirável! A religião não tem nada a ver com a verdade!!! O Espírito não guia a
Igreja, que é guiada por homens inteligentes que, por não o conhecerem, se
tornam erradas em toda busca da verdade! Vejam a resposta de Mack e pasmem)
– Entendo o que você está dizendo. Eu fiz isso
durante anos, depois da escola dominical (catecismo). Tinha as respostas
certas, algumas vezes, mas não conhecia vocês (!!!!!!!)
(…)
– Então verei você de novo? – perguntou Mack,
hesitando.
– Claro. Você pode me ver numa obra de arte,
na música, no silêncio, nas pessoas, na Criação, mesmo na sua alegria e na sua
tristeza. (…) E você irá me ouvir e me ver na Bíblia de modos novos.
Simplesmente não procure regras e princípios. Procure o relacionamento. Um modo
de estar conosco.
Ainda sobre regras e comportamento:
Após dar uma adequada explicação da gratuidade
do amor de Deus, Jesus novamente coloca no contexto uma idéia inadequada: “Isso
deve trazer um grande alívio porque
elimina qualquer exigência de comportamento. (e também de gratidão, de amor
gratuito e agradecido a Deus, de louvor, de amor como prova de amor, de amor
como conseqüência da fé e da esperança!)
Em seguimento à mentalidade anarquista e
relativista contrária a regras, o “espírito santo” nos presenteia com um outro
sofisma que sabe Deus de onde vem:
– Por que você acha que criamos os Dez
Mandamentos?
(…) – Acho, pelo menos foi o que me ensinaram,
que é um conjunto de regras que vocês esperavam que os humanos obedecessem para
viver com retidão e em estado de graça perante vocês.
– Se
isso fosse verdade, e não é – respondeu
Sarayu -, quantos
você acha que viveram com retidão suficiente para entrar em nossas boas
graças?
A
partir daqui o “espírito santo” começa a despedaçar a doutrina paulina sobre a
Lei e a graça:
– Na verdade, só um conseguiu: Jesus. Ele
obedeceu a letra da lei e realizou completamente o espírito dela. Mas entenda,
Mackenzie, para fazer isso, ele teve de confiar totalmente em mim e depender
totalmente de mim.
– Então por que vocês nos deram esses
mandamentos?
– Na verdade, queríamos que vocês desistissem de
tentar ser justos sozinhos. Era um espelho para revelar como o rosto fica
imundo quando se vive com independência. (esse foi, de fato, aproximadamente,
um dos efeitos da Lei, como diz o próprio Paulo, em Romanos. Entretanto, não
foi por esta razão que nos foram dados os 10 mandamentos, como bem sabemos)
– Mas tenho certeza de que vocês sabem que há
muitos que acham que se tornam justos seguindo as regras.
– Mas é possível limpar o rosto com o mesmo
espelho que mostra como você está sujo? Não
há misericórdia nem graça nas regras, nem mesmo para um erro. Por isso Jesus
realizou todas elas por vocês para que elas não tivessem mais poder sobre
vocês. (Senhor,
tem piedade de nós e consola São Paulo).
(…) – Está dizendo que não preciso seguir as
regras?
– Sim. Em Jesus você não
está sob nenhuma lei. Todas
as coisas são legítimas. (E
a lei do amor que Jesus veio trazer? Se faz todas as coisas legítimas, não é
amor!!! Aqui, Romanos é contradito de forma apavorante)
– Não pode estar falando sério! – gemeu Mack.
– Criança – interrompeu papai -, você ainda
não ouviu nada.
– Mackeinzie – continuou Sarayu-, só tem medo
da liberdade os que não podem confiar que nós vivemos neles. Tentar manter a
lei é na verdade uma declaração de independência, um modo de manter o controle.
(repare, que noção errônea de liberdade!)
-É por isso que gostamos tanto da lei? Para
nos dar algum controle? – perguntou Mack.
– É muito pior do que isso – retomou Sarayu. – Ela dá o poder de
julgar os outros e de se sentir superior a eles. Vocês acreditam que estão
vivendo num padrão mais elevado do que aqueles a quem vocês julgam. Aplicar
regras, sobretudo em suas expressões mais sutis, como responsabilidade e
expectativa, é uma tentativa inútil de criar a certeza a partir da incerteza.
E, ao contrário do que você possa pensar, eu gosto demais da incerteza. As
regras não podem trazer a liberdade. Elas têm o poder de acusar. ( o “espírito
santo” conseguiu transformar a Lei de Moisés em um conjunto de regras. Talvez
ele ignore o que diz o profeta, que Deus nos daria um coração de carne e
meteria Seu Espírito em nós para que cumpríssemos suas leis com a facilidade
dos que O amam! Como se não bastasse, denomina como “regras sutis” a
responsabilidade e expectativa. Aproximando-se ainda mais do absurdo, diz que
gosta demais da incerteza. Ora, pelo que a Bíblia nos ensina, o Salvador foi
prometido desde o pecado original, veio no “tempo oportuno, ou propício”, virá
no final dos tempos e nos deixou também no Novo Testamento, uma série de
promessas,orientações de responsabilidade quanto à salvação de nossas almas e
da humanidade inteira. Por séculos os judeus profetizaram com grande
expectativa a vinda do Messias e a esperaram intensamente. O absurdo chega ao
cume quando afirma que as regras não podem trazer a liberdade (oposto do que
nos ensina a Igreja e a Palavra) e que têm o poder de acusar, quando São Paulo,
ao falar no assunto, dizem que elas têm a finalidade de nos fazer ver o mal)
– Uau! De repente Mack percebeu o que Sarayu
haivia dito. – Está dizendo que a responsabilidade e a expectativa são apenas
outra forma de regras? Ouvi direito?
Em
seguida, “a trindade” entra em uma conversa que tem relação sofismática intensa
com a noção cristã de Verbo (que aplica às 3 pessoas) e de substantivo. Tal
sofisma remete às religiões orientais, assim como a neuro e meta- lingüística
Em um ataque de fundamentalismo, o “espírito
santo” afirma:
“por isso, você não encontrará a palavra
responsabilidade nas Escrituras” (!!!) (…)
A religião usa a lei para ganhar força e controlar as pessoas de que precisa
para sobreviver. Eu, ao
contrário, (desta vez, é o “espíritosanto” quem se
opõe à religião) dou
a capacidade de reagir e sua reação é estar livre para amar e servir em todas
as situações. (parece
lindo? Veja o que vem a seguir neste jogo sofismático de
verdade/mentira/verdade/mentira) (…) Como sou sua capacidade de reagir
livremente (novo nome do Espírito Santo?????
“espírito santo à la Nova Era?), tenho de estar presente em vocês. Se
eu simplesmente lhes desse uma responsabilidade, não teria de estar com vocês. A
responsabilidade seria uma tarefa a realizar, uma obrigação a cumprir, algo
para vencer ou fracassar.
Caso você queira encontrar outro raciocínio
sofismático fantástico para “provar” o erro, leia o que diz o “espírito santo”
sobre a amizade, a prontidão, a responsabilidade, a liberdade, o
relacionamento, o julgamento, as expectativas dos outros sobre você, que
terminam com uma afirmação aparentemente correta do “pai:”
“- Querido, eu nunca tive expectativas com
relação a você nem a ninguém.(e o “sede santos”, que vem desde o
AT e é repetido por Jesus, acrescentando uma medida imensa: “sede santos como o
Pai é santo“???) A idéia por trás disso exige que alguém não
saiba o futuro ou o resultado e esteja tentando controlar o comportamento do
outro para chegar ao resultado desejado.(por vezes, penso
que Young tem uma neurose sobre controle e sobre liberdade, o que o leva a
dizer absurdos com relação ao que a Igreja e a Palavra dizem sobre elas) Os humanos tentam esse controle
principalmente por meio das expectativas. Eu o conheço e sei tudo sobre você.
Por que teria uma expectativa diferente daquilo que já sei? (como
bom relativista e iluminista, coloca o conhecimento acima de tudo, o
experimental como base do conhecimento) Seria idiotice. E, além disso, como
não a tenho, vocês nunca me desapontam. (Pecado???
O que é isso???)
A
conclusão mais simples é que o livro não é adequado para ninguém, pelo menos
não para cristãos que amem a Deus e levem a sério a Palavra, a Igreja, o
mistério da Trindade.
Além
do que foi escrito acima, o livro prima pela dessacralização da Trindade e da
liturgia. Desautoriza igualmente o Magistério, a Igreja, os Sacramentos e a
ordem social.
Segundo a contracapa e a introdução, tem por
objetivo mostrar o sentido da vida e ajudar a passar por momentos de tristeza e
angústia. É de admirar, pois além de não fazê-lo, usa a maior parte de seus
capítulos para a descrição da “trindade” e seus “pensamentos”.
A versão, amplamente divulgada e com cara de
marketing, de que Mack relata uma experiência de Deus não é, nem um pouco
verdadeira e torna-se, mesmo, anacrônica quando colocada frente a frente com o
que diz a Palavra, os santos, os doutores da Igreja.
************
A Cabana, o livro.
Heresias “requentadas”.
Até mesmo os protestantes, que não valorizam
“tanto assim” a instiuição, estão criticando o livro, que continua “bombando”
como o mais vendido no Brasil.
Fazendo uma pesquisa rápida na Internet vc
encontrará muitas criticas à obra. Mesmo sabendo que é um livro de ficção, o
autor realmente ultrapassou o limite do aceitável. Depois descobri que
o autor é “unitarista”.
O que é isso?
Veja como o Wilkipédia define :
“O unitarismo (ou unitarianismo)
é uma corrente de pensamento teológico que afirma a unidade absoluta de Deus.
Há dois ramos principais do unitarismo, os Unitários Bíblicos que consideram a
Bíblia como única regra de fé e prática, assemelhando as demais religiões
cristãs evangélicas, exceto, claro, pela concepção unitária de Deus, e os
Unitários Universalistas, surgido recentemente nos Estados Unidos, que pregam a
liberdade de cada ser humano para buscar a sua própria verdade e a necessidade
de cada um buscar o crescimento espiritual sem a necessidade de religiões,
dogmas e doutrinas.
Alguém ainda tem dúvida de que a
história do livro é exatamente a expressão deste conceito absolutamente
pretensioso de que ”
só é verdade o que eu quero que seja verdade” ?
A
análise abaixo foi escrita por um protestante.
***
O escritor canadense William Paul Young saiu
do anonimato para a fama ao publicar um livro que se tornaria, em muito pouco
tempo, um verdadeiro sucesso. Com mais de dois milhões de cópias vendidas e
status de best-seller, “A Cabana” tem cativado a mente de muitas pessoas ao
redor do mundo, especialmente/inclusive dos cristãos.
Em linhas gerais, o livro conta a história de
Mackenzie Allen Phillips, o “Mack”, um pai de família que encontra a Deus
depois de ter sua filha caçula, Missy, raptada e brutalmente assassinada por um
maníaco assassino de crianças (um serial killer). Cerca de três anos e meio
depois do ocorrido, Deus, ou melhor, “Papai”, manda uma carta para Mack
marcando um encontro com ele exatamente na cabana onde a polícia havia encontrado
o vestido usado por Missy todo encharcado de sangue. Mack, depois de lutas
intensas consigo mesmo, resolve aceitar o “encontro”, mesmo desconfiando de uma
possível cilada do assassino de sua filha. Ao chegar lá, Mack tem uma, ou
melhor, três surpresas: Deus lhe aparece na pessoa de uma mulher “negra enorme
e sorridente” (pág. 73). Logo depois aparecem o Espírito Santo, na pele de uma
mulher asiática, chamada Sarayu, e Jesus, um homem médio-oriental (hebreu, pra
ser mais preciso) vestido de calça jeans e camisa xadrez. A partir de então,
Mack vai viver uma inesquecível aventura ao lado dessa ilustre “Trindade”.
Qualquer cristão que tenha um mínimo de
conhecimento de História da Igreja saberá que A
Cabana nada mais é do que o ressurgimento de algumas das antigas heresias que
tumultuaram a vida e o andamento da Igreja Antiga, principalmente aquelas que
envolviam questões sobre a Trindade. Do ponto de vista teológico, o livro
oscila entre heresias implícitas e explícitas; do ponto de vista literário,
entre frases de efeito medíocres (quase sempre) e alguns poucos insights interessantes.
Seu enredo envolvente propõe-se a apanhar os desavisados.
Não sei qual foi a experiência eclesiástica do
autor de A Cabana, mas posso presumir que não foi das melhores. Torna-se
patente, em muitas partes do livro, o desprezo pela igreja e pela adoração
corporativa, ressaltando-se
e a valorização
da experiência pessoal, como bem reza a cartilha pós-moderna.
[Mack] Percebeu que estava travado e que as
orações e os hinos dos domingos não serviam mais, se é que já haviam servido
[…] Mack estava farto de Deus e da religião, farto de todos os pequenos clubes
sociais religiosos que não pareciam fazer nenhuma diferença expressiva nem
provocar qualquer mudança real. Mack certamente desejava mais (pág. 54 – versão
digital. Itálico meu).
Parece que a intenção inicial do livro não é a
de levar os leitores a uma nova perspectiva sobre a Trindade, e sim,que
eles desacreditem da Igreja como sendo a “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e sigam atrás de
outras alternativas de encontrar Deus. Em minha opinião, esse é o maior perigo
que o livro oferece.
Quando o assunto, finalmente, é a Trindade, A
Cabana traz à tona várias heresias antigas (não pretendo fazer comentários
exaustivos sobre todas elas). Como já disse anteriormente, Mack vai à cabana
encontrar Deus, que lhe aparece no corpo de uma mulher de pele negra. Logo de
cara, vemos a verdadeira alma do paganismo, a saber, materializar Deus
dando-lhe alguma forma física. Entendo perfeitamente que se trata de um romance
e, como tal, precisa de personagens para dar substância ao enredo. Mas, em se
tratando do Senhor Deus Todo-Poderoso, essa regra não deve ser aplicada em
hipótese alguma. É exatamente isso que Deus expressamente proíbe no Segundo
Mandamento (Ex 20.4-5). Jesus mesmo declarou que “Deus é Espírito” (Jo 4.24).
Não devemos emprestar a Deus as formas vãs e tolas que concebemos em nossas
mentes pecaminosas (cf. Rm 1).
Uma das antigas heresias às quais me referi há
pouco é o Patripassianismo, doutrina monarquianista[1] segundo a qual foi o
próprio Deus quem morreu na cruz, em vez de Jesus. Tertuliano combateu esse
ensino com bastante veemência. Quando, certa vez, ele disse que “o demônio tem
lutado contra a verdade de muitas maneiras, inclusive defendendo-a para melhor
destruí-la”, estava se referindo justamente a essa heresia, que estava sendo
largamente difundida por Práxeas. Ele continua dizendo que “Ele [o demônio]
defende a unidade de Deus, o onipotente criador do universo, com o fim
exclusivo de torná-la herética[2]”. Em uma passagem de A Cabana essa heresia é
claramente visível:
Papai não respondeu, apenas olhou para as mãos
dos dois. O olhar de Mack seguiu o dela, e pela primeira vez ele notou as
cicatrizes nos punhos da negra, como as que agora presumia que Jesus também
tinha nos dele. Ela permitiu que ele tocasse com ternura as cicatrizes, marcas
de furos fundos, e finalmente Mack ergueu os olhos para os dela (pág. 86.
Itálico meu).
Embora
Jesus seja Deus, sabemos que não foi Deus, o Pai, quem morreu na cruz. Deus não
tem as marcas dos pregos em seus punhos, como A Cabana quer que acreditemos. Foi o Seu Filho quem foi
crucificado. No afã de ressaltar a unidade da Trindade, o Monarquianismo acabou
resumindo tudo a uma só pessoa. Em mais uma declaração claramente sabeliana[3],
“Papai” diz a Mack que “quando nós três penetramos na existência humana sob a
forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos” (pág. 85). Mas não é
esse o ensino bíblico. A Palavra de Deus é bastante clara quando se refere ao
Pai, ao Filho e ao Espírito Santo como sendo Pessoas distintas que possuem uma
mesma essência (ver Mt 28.29; 2 Co 13.13; 1 Jo 5.7; 2 Jo 3). E o pior de tudo é
que, para confundir ainda mais o leitor, “Papai” desdiz tudo o que houvera dito
antes, dizendo que
Não somos três deuses e não estamos falando de
um deus com três atitudes, como um homem que é marido, pai e trabalhador. Sou
um só Deus e sou três pessoas, e cada uma das três é total e inteiramente o um
(pág. 87).
Seria algo equivalente à “Metamorfose
Ambulante” proposta por Raul Seixas (“eu vou lhes dizer agora o oposto do que eu
disse antes”)? Será que dá pra confiar no “Deus” proposto por William P. Young?
Mas os problemas não param por aí. Como se não
bastasse, o livro também nega a divindade de Jesus. Em uma conversa entre Mack
e Papai, Mack pergunta:
— Mas… e todos os milagres? As curas?
Ressuscitar os mortos? Isso não prova que Jesus era Deus… você sabe, mais do
que humano?
— Não, isso prova que Jesus é realmente humano.
[Papai continua…]
— Fez isso como um ser humano dependente e limitado que confia na minha vida e no meu poder de trabalhar com ele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém (pág. 90).
— Não, isso prova que Jesus é realmente humano.
[Papai continua…]
— Fez isso como um ser humano dependente e limitado que confia na minha vida e no meu poder de trabalhar com ele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém (pág. 90).
Ora,
o que temos aqui não é o velho Ebionismo, que pregava que Jesus tornou-se
Messias pelo Espírito Santo? Ou, ainda, o Arianismo, que dizia que Jesus era um
simples homem elevado a uma categoria superior à dos demais seres humanos? O
autor faz um divórcio entre a Humanidade e a Divindade de Jesus quando diz que
“Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém”, quando, na
realidade, as duas naturezas de Cristo são inseparáveis.
Nas palavras de John Stott, “Jesus não é Deus
disfarçado de homem e nem um homem disfarçado de Deus”. Ele é Deus-Homem, como
bem foi definido em Calcedônia no ano de 451 d.C. E para dar mais ênfase ainda
na humanidade de Cristo, a personagem Jesus “deixara cair uma grande tigela com
algum tipo de massa ou molho no chão, e a coisa tinha se espalhado por toda
parte” (pág. 95), o que rendeu boas gargalhadas a Mack e Papai. Era só o que
faltava: um Jesus todo atrapalhado!
O livro prossegue no enredo seguindo a tônica
do “o importante é relacionar-se”. Nada de imposições, de regras. Amor
pressupõe liberdade. Baseado nesse pensamento o autor constrói, ou melhor,
desconstrói a questão da hierarquia na Trindade. É assim que
“Jesus” define a questão:
Esta é a beleza que você vê no meu
relacionamento com Abba e Sarayu. Nós somos de fato submetidos uns aos outros,
sempre fomos e sempre seremos. Papai é tão submetida a mim quanto eu a ela, ou
Sarayu a mim, ou Papai a ela (pág. 129 – versão digital).
Sarayu, que personifica o Espírito Santo, diz
que a hierarquia não faria sentido entre a Trindade (pág. 112). Como é que
fica, então, frases como “Seja feita a vossa vontade”? Não havia uma submissão
do Filho ao Pai? Jesus disse que desceu do céu para “fazer a vontade do Pai”(Jo
6.38). A Cabana não se coaduna com a Bíblia aqui.
Outro ponto que chama alguma atenção no livro
é a questão da onisciência de Deus. Apesar de em alguns pontos ela ser
ressaltada (págs. 81, 147, 148, 174, 192 e 206, e.g.), o livro parece bem
confuso neste aspecto. Nas páginas 129-130, por exemplo, Jesus diz que “é
impossível ter poder sobre o futuro, porque ele não é real, e jamais será”.
Sophia, uma personagem que representa a Sabedoria de Deus (Teosofismo?) diz que
Deus não pôde impedir a morte de Missy (pág. 151), e que tal tragédia “não foi
nenhum plano de Papai” (pág. 152). Entretanto, mais uma vez ele se contradiz,
ao afirmar que poderia ter impedido o que aconteceu a Missy (pág. 204). Os
leitores mais familiarizados com as tendências teológicas pós-modernas saberão
que isso se trata de Teísmo Aberto, uma doutrina que remonta ao Socinianismo do
século XVI. Segundo essa ideia, o futuro não pode ser plenamente conhecido (nem
mesmo por Deus!), pois depende das ações dos seres humanos (chamados de
“agentes livres”). Isso inclui também as tragédias naturais (como o Tsunami,
por exemplo). Se isso é verdade, como é que fica, então, a questão do Dilúvio?
E de Sodoma e Gomorra? Não foi o próprio Deus quem orquestrou tudo? Não é
justamente isso que Ele diz em Isaías 45.7 (“… faço a paz e crio o mal”)?
William P. Young parece não acreditar muito nisso.
A verdade do Evangelho é outra questão que
está em jogo em A Cabana. Como diria a máxima modernista, “tudo o que é sólido
desmancha-se no ar”. Nada de certezas, convicções. Papai mesmo é quem diz a
Mack que “a
fé não cresce na casa da certeza” (pág. 176),Sarayu diz: “gosto demais
da incerteza” (pág. 190). Em outra ocasião Papai diz a Mack: “Quem quer adorar
um Deus que pode ser totalmente conhecido, hein? Não há muito mistério nisso”
(págs. 85 e 86 – versão digital). E as farpas contra a igreja continuam. Jesus
diz: “não crio instituições” (pág. 166). Logo em seguida, numa
declaração hilariante, ele afirma categoricamente: “eu não sou cristão” (pág.
168). Aliás, para esse Jesus, o evangelho não é exclusividade. Diante do
pluralismo religioso “Jesus” é bastante inclusivista. Ele mesmo diz que
Os
que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons,
batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem
fazem parte de qualquer instituição religiosa (pág. 168).
Realmente, para um Deus que disse que “a morte
dele [de Cristo] e sua ressurreição foram a razão pela qual eu agora estou
totalmente reconciliado com o mundo” (pág. 180 – itálico meu) isso não é
problema. Universalismo? Imagina! “Não preciso castigar as pessoas pelos
pecados” (pág. 109). “Em Jesus eu perdoei todos os humanos por seus pecados
contra mim, mas só alguns escolheram relacionar-se comigo”, disse Papai (pág.
209). Que estranho, não? Todo mundo perdoado e alguns que se relacionam? Bom,
se é ele quem está falando, quem sou eu para questionar? No meio de toda essa
confusão Mack parecia mesmo estar totalmente perdido. Foi “barrado” inclusive
de ter seu momento devocional, quando foi perguntar pelas orações, ouvindo da
boca de Papai: “nada é um ritual” (pág. 194). Coitadinho do Mack! Não tinha
razão em nada! Mesmo quando pensou em Jesus como referencial de vida, um
exemplo a ser seguido, ouviu da boca do próprio: “minha vida não se destinava a tornar-se um exemplo a
copiar” (pág.
136). E agora, José, ou melhor, Mack? Caía por terra diante de seus olhos toda
a instrução apostólica para que sejamos “imitadores de Deus” (Ef 5.1; 1Pe 1.16).
Ainda não acabou. Falta o “filé mignon”. Que
tal uma pitadinha de Espiritismo para temperar nossa estória? Pois é. Mack vê
sua filha, Missy! Uau! Que emocionante, hein? Foi Sophia (uma médium?) quem
proporcionou esse encontro (pág. 153). E tem mais. Mack reencontra o seu pai
(pág. 200), que ele havia envenenado depois de ter levado uma surra que o
deixou de cama por duas semanas quando ele tinha apenas 13 anos de idade. Abre
parêntese. O pai de Mack era um alcoólatra que batia na esposa, e Mack contou
isso a um irmão da igreja da qual seu pai era membro. Fecha parêntese. Esse era
um segredo que Mack guardava a sete chaves. Realmente, ele tinha muitas feridas
que precisavam ser curadas. Então, por que não fazê-lo com uma sessão espírita?
Os dois se abraçaram e fizeram as pazes, com direito a beijinho na boca e tudo
(pág. 201). Jesus gosta tanto dessa ideia de beijar na boca que resolve fazer o
mesmo com Papai (pág. 205).
Perdoem-me aqueles que ainda não leram o
livro, pois revelei muitos dos seus suspenses. Achei por bem não expor
absolutamente tudo de errado que encontrei. Expus apenas aquilo que considerei
necessário. É
perfeitamente compreensível o fato de A Cabana encabeçar o ranking dos livros
mais vendidos[4], afinal de contas as pessoas estão à procura de um “Deus”
(deus!) que se ajuste às suas pretensões. O que nos preocupa, entretanto, é
saber que dentre os que financiam esse tipo de heresia estão aqueles que se
professam crentes em Cristo. Sei que se trata de uma ficção, mas infelizmente
não é dessa forma ela tem sido encarada. Perguntado sobre o que ele quer que as
pessoas concluam ao lerem A Cabana, numa entrevista, William P. Young declarou
que deseja que as pessoas “saibam ou tenham a noção de que Deus é bem maior do
que eles já imaginaram”[5]. Lembrando de trechos do livro, sinceramente ainda
não consigo enxergar grandeza alguma no “Deus” apresentado por Young. O que vi foi
uma divindade deficiente que se curva aos caprichos humanos. Continuo
preferindo o Deus que se revelou nas Escrituras. Este sim é a minha Rocha!
Soli Deo Gloria!!!
Leonardo Galdino
Fonte: http://blog.comshalom.org
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