Quando
li o livro, pela primeira vez estava viajando. Tinha decidido passar um mês
fora e li por pura diversão. Agora que tive a chance de assistir
ao seriado, fiquei com medo de como as pessoas, especialmente as que estão
fragilizadas, vão entendê-lo. A primeira ideia é super
bem vinda: vamos falar sobre suicídio! Algo extremamente necessário atualmente.
Mas, à medida que fui assistindo à série, minha preocupação foi aumentando.
Aí vem os Spoilers, muitos spoilers! Se você não assistiu, não leia o que escrevi.Primeiro vem a questão das fitas.
Cada
fita é um motivo pelo qual Hannah decidiu se matar e está relacionada a
diferentes pessoas. Entendi que as fitas foram gravadas como uma forma de se
vingar contra as pessoas que a tinham feito mal. A ideia é: vou me matar, mas
vou levar todos comigo.Ai vem o questionamento: até onde
somos responsáveis pelo suicídio de alguém? Essa questão de encontrar
culpados me preocupa, até porque vejo essa questão quase todos os dias no
consultório, especialmente por quem está passando por situação parecida.
Não
à toa que um dos personagens também tenta suicídio e outro tem um baú cheio de
armas de grande porte e, logo depois, começa a ver fotos de alunos como se
fossem possíveis alvos para uma chacina.
Também
ouvi várias pessoas falando sobre o aumento de ligações para o CVV. Em primeiro
lugar, é claro que as ligações aumentariam: este é o efeito esperado de uma
campanha de divulgação. Em segundo lugar, as ligações comprovam também que “Os
13 Porquês” tem um imenso potencial para disparar gatilhos. Gatilhos esses
perigosos e que podem levar ao suicídio.
Ao
encenar com detalhes o suicídio de Hannah, a série vai de encontro as várias as
recomendações feitas pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à
forma com que o suicídio deve ser tratado pela mídia. Aliás, duvido que eles
tenham lido algo sobre como a OMS recomenda tratar questões relacionadas ao
suicídio.
Quem
está em depressão grave, pode confirmar na série que a única saída é mesmo o
suicídio. Hannah em nenhum
momento procura ajuda de verdade. De certa forma ela quer que
as pessoas cheguem até ela para salvá-la, o que na maioria das vezes é
impossível, pois não sabemos o que se passa dentro da cabeça do outro. Ela
tenta falar com colegas que não a aceitam ou que já fizeram mal a ela, como
conselheiro da escola que não tem formação profissional e a conversa com seus pais
é extremamente superficial. O final é extremamente simbólico
quando ela fala: “Eu não me importo mais, e vocês não se importaram o
suficiente”. Novamente, a questão da culpa.
Ficaria
muito mais tranquila se o seriado mostrasse que há, sim, saídas ao invés do
suicídio. Sim, há angústias, maldades, mas que podem ser superadas. Locais onde
a personagem poderia procurar ajuda de psicólogos, psiquiatras, grupos de
apoio, igreja, etc., ao invés de mostrar o suicídio de Hannah de forma bem
gráfica.
No
final, para mim, a intenção do seriado não vingou. Em vez de dar esperança às
pessoas que estão com a vida por um fio, ele mostra que o melhor a fazer é
arrumar culpados e depois se matar. A ideação suicida já é, por si só nociva.
Reforçá-las com narrativas irresponsáveis é algo não só desaconselhável, mas
também perigoso.
Resumindo:
se você está bem psicologicamente, assista a série. Mas se você está mal, com
depressão grave e ideação suicida, não assista e procure ajuda profissional.
Autora:
Luiza Braga (CRP 11/04767)
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP.
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP.
Fonte: http://blog.comshalom.org
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