Zenit
A primeira viagem internacional do papa Francisco
despertou o interesse da imprensa internacional por diversos motivos. Um deles,
entre os mais martelados, é a ênfase de muitos meios de comunicação na
quantidade de católicos brasileiros, que mantêm no país o título de maior
população católica do mundo, mas vem diminuindo consideravelmente.
Artigos e reportagens opinam que o avanço de grupos
protestantes, de movimentos religiosos alternativos, de outras religiões e
inclusive de não crentes é o que teria motivado a viagem do papa Francisco,
numa espécie de “reconquista” do Brasil em particular e da América Latina em
geral.
O Brasil é o primeiro país do mundo em número de
católicos. Na América, seguem-se México, Colômbia, Argentina, Peru, Venezuela,
Equador, Chile, Guatemala, República Dominicana, Bolívia, Haiti, Cuba,
Honduras, Paraguai, Nicarágua, El Salvador, Costa Rica, Porto Rico, Panamá e
Uruguai.
O Vatican Information Service, em 20 de julho,
trouxe as seguintes estatísticas sobre a Igreja católica no
Brasil:
“O Brasil tem uma população de 195.041.000 de
habitantes, dos quais 164.780.000 são católicos, ou seja, 84,48%. Há 274
circunscrições eclesiásticas, 10.802 paróquias e 37.827 centros pastorais.
Realizam as tarefas de apostolado 453 bispos, 20.701 sacerdotes, 2.702
religiosos e 30.528 religiosas; os diáconos permanentes são 2.903. Há 1.985
membros leigos de institutos seculares, 144.910 missionários leigos e 483.104
catequistas. Os seminaristas menores são 2.671 e os maiores 8.956”.
“A Igreja Católica tem no Brasil 6.882 centros
educativos de todos os níveis, nos quais estudam 1.940.299 alunos, além de
3.257 centros de educação especial. Há também 5.340 centros assistenciais de
propriedade da Igreja ou dirigidos por eclesiásticos: 369 hospitais, 884
ambulatórios, 22 leprosários, 718 casas para idosos e portadores de necessidades
especiais, 1.636 orfanatos e creches e 1.711 consultórios familiares e centros
para a proteção da vida”.
Os dados são do Escritório Central de Estatísticas
da Igreja, atualizados em 31 de dezembro de 2011.
Um levantamento do The Pew Forum on Religion
and Public Life, de 18 de julho, reforça os dados da The Economist.
A análise Brazil’s Changing Religious Landscape estudou os dados de
vários censos brasileiros das últimas quatro décadas, cujos resultados
refletem, de fato, uma queda no número de católicos e um aumento no número de
protestantes.
O relatório mostra que, entre 1970 e 2000, o número
de católicos no Brasil aumentou, apesar de a população que se considera
católica ter caído. Foi a partir de 2000-2010 que tanto o número absoluto
quanto a porcentagem de católicos diminuiu (de 125 milhões, em 2000, ou 74% da
população, para a 123 milhões em 2010, ou 65% da população).
Em contrapartida, o protestantismo brasileiro
aumentou no mesmo período de 25 milhões (15% da população) para 42 milhões (22%
da população). Movimentos religiosos alternativos e religiões como o islamismo
e o budismo subiram de 2 milhões em 1970 para 6 milhões em 2000 (4% da
população), até atingir 10 milhões (5% da população) em 2010.
Por sua vez, o número de pessoas sem afiliação
religiosa também aumentou, de acordo com o estudo do The Pew Forum on
Religion and Public Life. Agnósticos e ateus passaram de menos de 1 milhão
em 1970 para 12 milhões em 2000 (7% da população). O censo brasileiro de 2010
atualizou este dado: 15 milhões de brasileiros estavam sem afiliação religiosa
(8% da população).
O estudo Brazil’s Changing Religious
Landscape menciona que, de acordo com o censo brasileiro de 1991, os
pentecostais e neopentecostais representavam 6% da população. Em 2010, já eram
13%. Enquanto isso, os brasileiros que se identificam com denominações
protestantes tradicionais, como os batistas e os presbiterianos, se mantiveram
em número estável nas duas últimas décadas. A terceira categoria de
protestantes tradicionais aparece no censo do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) como “sem classificação”: eram 1% em 1991 e 5% em 2010.
O estudo menciona ainda as porcentagens de religião
por sexos: segundo o censo de 2010, há mais homens católicos (65%) do que
mulheres (64%). Este cenário muda no âmbito protestante, em que as mulheres
representam 24% e os homens 20%. Por sua vez, 10% dos homens são agnósticos ou
ateus, contra 6% das mulheres. Em outras religiões, as mulheres são 6% e os
homens 5%.
Um dado chamativo a respeito do Rio de Janeiro, a
cidade que recebe a Jornada Mundial da Juventude 2013, é que menos da metade da
população carioca (46%) é católica.
E quanto à discordância entre as estatísticas do
Escritório Central da Igreja e as do The Pew Forum on Religion and
Public Life, que se baseia em dados do censo do IBGE? Ela se deve ao
seguinte: os dados da Igreja contam as pessoas batizadas em números absolutos,
enquanto The Pew Forum contabiliza as mudanças de religião das
pessoas depois do batismo.
A viagem do papa ao Brasil, porém, não se deveu a
uma “estratégia de reconquista”, nem tem como finalidade principal reacender o
fervor dos brasileiros e dos latino-americanos.
A visita estava prevista há dois anos, quando Bento
XVI anunciou, na Jornada Mundial da Juventude em Madri, que o Rio de Janeiro
seria a sede da edição de 2013. O papa Francisco manteve o compromisso, na
continuidade entre os dois pontificados. Esta sim, midiaticamente falando, é
uma chave de leitura válida
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