Sabias
que é consensual entre a maioria dos estudiosos que um conflito – de dimensão
local – entre os discípulos de Jesus e os responsáveis da sinagoga terá
precedido a composição do Evangelho de Jo? Pois é, terá havido um conflito
entre dois movimentos, no seio da mesma comunidade judaica, que se
auto-consideravam verdadeiros herdeiros e seguidores da lei de Moisés. Não
obstante as controvérsias, estes judeus que acreditaram em Jesus como Senhor e
Messias, inicialmente, conservavam a sua identidade judaica e continuavam a
praticar a lei e assim terão sido aceites na comunidade judaica local.
O
conflito entre estes dois movimentos, fruto também da envolvência sociológica,
legal, política e teológica do primeiro século, foi-se agudizando e tomando
formas concretas. Se inicialmente ambos conviviam no seio da mesma comunidade,
beneficiando da tolerância da época, o desejo de ambos os movimentos
encontrarem a sua identidade e salvaguardarem a sua unidade interna aumentou a
distância entre eles.
O próprio
evangelista acena algumas dessas controvérsias havidas entre a sua comunidade e
judeus que exerciam o poder. As quais se desenvolveram no interior da sinagoga
judaica, a qual no primeiro século era formada por pequenas assembleias que
procuravam a piedade, o conhecimento e o compromisso. Os seus membros
reuniam-se para aprofundar as promessas de Deus como base de renovação do
judaísmo e definiam a sua identidade e dinâmica comunitária em torno da leitura
e estudo da Torah. Filão testemunha que os membros da comunidade reuniam-se em
conjunto no dia de sábado para lerem e estudarem as leis santas em vista ao
aprofundamento do conhecimento das leis sagradas e do aumento da piedade.
Deste
modo a comunidade joanina a partir do seu próprio background – judeu, gnóstico
e helénico – construi, em contraposição com a sinagoga e outras comunidades
místicas e filosóficas, a comunidade que viria a ser, alcançando ela mesma a
sua própria identidade. Uma comunidade que configura a sua unidade no Logos
feito carne, não como expressão da sabedoria ou iluminação da lei, nem sequer
como experiência mística individual, mas identificado com o próprio Jesus
verdadeiramente homem que é um com Deus (1,1-3; 10,30; 17,11.21) e que
possibilita aos seus membros chegar a Deus e nele permanecer como comunidade
unida na obediência amorosa à fidelidade do seu Espírito.
Bernardo
Correa d’Almeida - A
Bíblia: uma janela sobre o mundo bíblico
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