Publicamos a seguir mensagem de Dom
João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari, Presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para Vida e Família da CNBB e Vice-Presidente do Pontifício Instituto
João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família – seção brasileira, sobre
a situação da defesa da vida no território brasileiro.
***
“Eu vim para
que tenham vida e a tenham em abundância.”(Jo 10,10)
Prezados irmãos e irmãs,
Durante a última Assembleia Geral da CNBB, ao comentar a decisão do
Supremo Tribunal Federal (STF) relativa à legitimidade do aborto de crianças
portadoras de anencefalia, foi decidido que a Comissão Episcopal Pastoral para
Vida e Família (CEPVF) iria elaborar, com a participação do Conselho Episcopal
Pastoral da CNBB (CONSEP), uma proposta para responder aos desafios que estavam
evidenciando-se naquela circunstância. Na realidade, no cenário da sociedade
e da cultura atuais, apresentam-se diversas formas de desrespeito e agressão à
vida humana, que clamam ao céu (cf. EV 9; Gn 4,
9-10; Mt 23, 35) e
que exigem dos pastores e fiéis das comunidades católicas uma resposta
orgânica, sistemática e propositiva.
Recordemos algumas situações:
a- O STF liberou o aborto de crianças portadoras de anencefalia.
b- Está em discussão o Projeto de Reforma do Código Penal que inclui
entre suas normas a legalização do aborto, da eutanásia, da profissão de
prostituto/a, entre outras.
c- O Ministério da Saúde está elaborando um modo de “diminuir os danos” à
saúde da mulher, provocados por abortos clandestinos, legitimando e amparando,
de fato, a realização do aborto, mesmo que a lei o considere crime (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1100945-governo-estuda-adotar-medidas-de-reducao-de-danos-para-aborto-ilegal.shtml).
d- A fecundação artificial (dita assistida) dá origem a uma nova
vida em situação indigna de um ser humano. De fato, o novo ser não nasce de uma
relação de amor, mas em laboratório. No entanto, cada ser humano tem o direito
de nascer de um ato de amor entre um homem e uma mulher. Além disso, para
cada gravidez encomendada, são produzidos diversos embriões (de 5 a 8), sendo
aproveitados os mais bem sucedidos e destruindo os outros.
e- Centenas de adolescentes e de jovens, toda semana, perdem a vida por
causa das guerras que se travam ao redor das drogas.
f- São alarmantes as situações de violência que afetam crianças, idosos,
mulheres e agora também homens, em ambientes domésticos.
A lista poderia estender-se ainda muito mais.
O que está acontecendo com a nossa sociedade?
Muitos pensavam (alguns ainda pensam) que a sociedade moderna não precisa
de religião, que as novas gerações poderiam realizar-se e conseguir sucesso e
bem estar mais agilmente, ignorando a luz de Cristo e a sabedoria do evangelho,
ignorando também o ideal da vida fraterna e da caridade que respeita e acolhe o
outro.
Foi desvalorizado o entendimento segundo o qual a vida encontra
realização e felicidade fazendo o dom sincero de si para o bem e a felicidade
de outros, até com o sacrifício próprio (na família, na vida consagrada, na
profissão, na política) (cf. Jo 10, 25; 15, 13; Lc 17, 33). Prevalece, agora, o
privilégio dado ao próprio bem estar, mesmo com sacrifício dos outros (o aborto
de um filho com anencefalia vai nesta direção).
A vida humana é avaliada pela sua utilidade, sendo descartada quando
exige dedicação de tempo e de dinheiro, considerada mais uma mercadoria do que
algo sagrado. A postura que a Igreja muitas vezes usou de proibir certas
práticas ou condenar certas atitudes não tem o efeito esperado. Pelo contrário,
parece que suscita irritação e distanciamento. É necessário empreender uma
grande educação popular, no horizonte da nova evangelização (cf. DGAE
2011-2015, p. 9), de modo que cada leigo engajado possa discernir as propostas
e as situações que contradizem o Evangelho e o verdadeiro bem do ser humano, e
seja capaz de dar as razões (cf. 1P 13, 15) pelas quais rejeita certas opções e se decide por outras.
A CEPVF, em comum acordo com o CONSEP, propõe a criação
de Comissões de Respeito Promoção e Defesa da Vida em cada diocese, e,
sempre que possível, em cada paróquia, organizadas pela Igreja, com a
finalidade de:
a- Compreender as formas de agressão e desrespeito à vida que acontecem
no território nacional, da diocese ou da paróquia.
b- Dar visibilidade a esses problemas na imprensa local, nas rádios
comunitárias, ou através da elaboração de uma específica publicação.
c- Procurar evidenciar as razões para defender e promover a vida que
possam ser aceitas inclusive por parte de quem se declara sem religião, na base
da razão natural que compreende a dignidade da vida e reconhece os direitos
universais.
d- Oferecer às próprias comunidades uma formação enraizada na Palavra de
Deus e na Doutrina Social da Igreja, de maneira que cada um se torne um
militante da defesa e da promoção da vida (cf. Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora no Brasil – DGAE – 2011-2015, n. 67).
e- Promover debates públicos, bem como nos meios de comunicação que são
acessíveis, para criar mentalidade.
f- Estabelecer parcerias com Escolas públicas e privadas, através da
elaboração de textos, vídeos e outros meios didáticos que visem à formação das
crianças e dos adolescentes. Promover concursos de desenho, redação e outros,
tendo como tema a defesa e a promoção da vida, especialmente por ocasião da
Semana Nacional da Vida.
g- Suscitar debates nas câmaras municipais, nas Assembleias Legislativas,
com a finalidade de sensibilizar um segmento da população mais difícil de ser
atingido e que em geral influencia muitas pessoas.
Na medida em que nas maiores cidades de um Estado estão constituídas
Comissões de Respeito, Promoção e Defesa da Vida, será fácil constituir
uma comissão de nível estadual, com a participação de representantes de
outras religiões, professores universitários, políticos etc.
Trata-se de defender a vida humana não somente contra as tentativas de
ampliar a legitimidade de abortar, mas de promover a vida humana em todas as
situações nas quais é ofendida e é ferida a sua dignidade inviolável (cf. DGAE
2011-15, n. 66 e 69). Basta lembrar as situações de trabalho escravo, de
miséria extrema e fome, de abandono de crianças ou de idosos, de tráfico de
pessoas, abuso de menores etc.
A CEPVF elaborou algumas sugestões práticas para a constituição das
Comissões nas Dioceses e nas Paróquias. Essas sugestões são publicadas no
subsídio “Hora da Vida”, nas páginas finais. Pedimos aos bispos, padres e
leigos que tomem a frente desse movimento de evangelização e de educação
popular que visa defender e promover a vida, sempre que é desrespeitada e oprimida,
de modo a motivar lideranças qualificadas capazes de levar adiante com
generosidade e com criatividade esta proposta.
Existem outros subsídios já elaborados que podem auxiliar, especialmente
na etapa inicial da implantação da Comissão. A CEPVF está à disposição para
auxiliar e orientar em tudo o que for possível.
Dom João Carlos Petrini é Bispo de Camaçari, Presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para Vida e Família da CNBB e Vice-Presidente do Pontifício
Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família – seção
brasileira.
Contatos – e-mail: vidafamilia@cnbb.org.br; familia@cnbb.org.br; secren@cnpf.org.br;
tel.: (61) 3443-2900; (61)
8155-5631; (61) 2103-8300
Fonte: Blog do
Carmadélio
Nenhum comentário:
Postar um comentário