SÓ PODE DAR NISSO AÍ
Percival
Puggina
Retorno
ao fato porque é de riqueza extraordinária. Quem assistiu “Diários de
Motocicleta” há de lembrar da passagem de Che Guevara pelo leprosário de San
Pablo, atendido por uma congregação de religiosas no meio da selva, às margens
do Amazonas. E há de lembrar que para os sinistros efeitos do filme, Che é
apresentado como um santo abrasado de amor aos enfermos, e as irmãs como um
perverso corpo de autoridades locais. Pura mistificação! Após duas semanas
fazendo travessuras por ali enquanto superava uma crise de asma, Che bateu asas
e foi fazer seu turismo revolucionário noutra freguesia. Quanto às irmãs, tão
maltratadas pelo filme, continuaram, vida afora, enfiadas no mato, cuidando dos
leprosos. Eis um bem torneado exemplo da diferença entre o verdadeiro amor
ao próximo e a fantasia que empresta ao marxismo e ao comunismo o brilho vulgar
das lantejoulas. Para o cineasta Walter Salles as religiosas eram megeras e
Guevara um anjo de bondade.
Imagine
um brasileiro que percorra do primeiro ao último degrau o sistema de ensino do
país. Qual a corrente filosófica a
que mais esteve submetido durante todo esse período, ainda que haja trocado de
escola, de cidade e de Estado, em cada trecho do percurso escolar? Pois é.
Marxismo. É análise marxista, crítica marxista, economia marxista, visão
marxista da história, teologia da libertação, pedagogia do excluído e, como
lastro para o materialismo histórico, camadas maciças de maledicência sobre o
cristianismo.
Esse
marxismo de polígrafo escolar tem a
profundidade de um pires. Os que o lambem como tema de casa são
incapazes de escrever uma lauda a respeito, mas saem do colégio prontinhos para
ler a vida com os olhos que lhes deram. Assistem “Diários de Motocicleta” e
concluem: no peito de Che batia um coração de mártir; já o coração daquelas
beatas do leprosário não se abria nem com formão e martelo.
Só
escapam dessa linha de montagem, que inclui a maioria dos estabelecimentos de
ensino confessionais, os poucos estudantes que recebem em casa, ou de algum
professor achado por pura sorte no meio do caminho, dose suficiente de antídoto
para enfrentar o que lhes é ministrado ao longo dos cursos. Se mesmo nos bons
educandários, deixa-se de lado a sã filosofia e se depreciam os grandes valores
que inspiraram e inspiram a imensa maioria dos melhores vultos da humanidade,
pergunto: como esperar das elites brasileiras que junto a esses
estabelecimentos buscam formação, coisa melhor do que isso que vemos por aí?
Quando parece muito normal que o governo contrate um grupo para escrever o
passado (Walter Salles faria excelente documentário sobre a comissão), a temática
educacional há de ser, sim, motivo de grave preocupação para quem reflita sobre
o futuro do país.
Zero
Hora, 20/05/2012
Fonte: Blog do
Carmadélio
Nenhum comentário:
Postar um comentário